segunda-feira, 1 de agosto de 2022




De novo, o Verão se lançou ao assalto de Agosto,

Trouxe as suas árvores, aves, horas,

Trouxe o seu rito, o seu ritmo

Indolente, a cidade quase não tem pulso,

Quase não tem tensão arterial –

Sossego de não haver vento,

Mas apenas o ar em bloco,

Bloco abafante, enraizado.

É Verão, quase todos deixaram

As suas mãos operárias na cidade

E lançaram-se na conquista

Das coisas conhecidas, mas já esquecidas,

O que é bastante mais difícil

Do que tactear um espaço envolto em desconhecido

São quase todos argonautas do verde e do mar. 

Querem purificar-se no longe,

Despir por um momento a pele

Que recebe fumo, suor, pó, cansaço,

Deixar para trás a insolubilidade das contas,

Que são, afinal, a própria vida.

É Verão e, por ora, a cidade foi domada.


Nuno Rocha Morais

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