Deixa-te ouvir cada palavra,
Deixa cada palavra ver-te ouvi-la
Até que confie em ti
E te deixe segui-la no seu silêncio.
Segue-a, pois em silêncio,
Numa atenção desatenta,
Esquecida de si própria
E, porém, rapace.
Conhece o silêncio de cada palavra
Para a poderes perseguir, seduzi-la,
Sabe como convocá-la sem a dispersar.
Mas podes buscá-la ainda
Nas suas zonas de iluminação pobre,
Afastadas de um centro radiante,
Talvez aí a encontres.
Não precisa de ser impoluta
O verso é um efeito
Da pureza por artifício.
As primeiras falhas de um lirismo,
A primeira máscara arrancada
A um rosto assustado.
Nuno Rocha Morais
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