quinta-feira, 23 de junho de 2022

Altruísmo


Deixem-me ser homem,

No outro homem,

Pelo outro homem,

Deixem-me vencer este sangue monolítico,

O coração monocórdico,

Deixem-me ver mais além

Que os meus próprios olhos,

Construir mais alto

Que a pequenez dos meus braços,

Apontar outros barcos.

Deixem-me, vocês, aí,

Heras ou estátuas

Que detêm o meu choro e o meu riso,

Vocês, aí, que me decepam as mãos,

Me atulham a voz com palavras de porcelana,

Vocês, aí, que só sabem calar

E sabem ver morrer:

Deixem-me viver o meu peito como a página

De um dia claro. 


Nuno Rocha Morais

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deram-nos uma liberdade de cravos Desenterrada dos mais sombrios tempos – Crónica da memória – Liberdade pisada, amarfanhada Nas profundezas...