quinta-feira, 2 de setembro de 2021

 

Nunca foste tão feliz

Como aos dezassete anos

Da governação do teu corpo,

Tão feliz por não conheceres, dizes,

Amor nenhum

Excepto aquele com que te amavam.

Ninguém que a tua beleza não quisesse

Poderia existir no reino dos teus dezassete anos;

Os teus olhos bastavam para extinguir ou criar,

Nada do que fixavam se perdia

E era todo um mundo que os seguia,

Como se de um capricho deles dependesse

A luz, a neve, a aceleração de sóis,

O tecido leve das noites.

Aos dezassete anos, o riso dos amigos

É o melhor dos lugares conhecidos,

A única recompensa, a única família.

Nunca mais a alegria terá dezassete anos,

Tão humana e tão leve

Na sua declaração de sóis,

Nos primeiros relances sobre a alma,

Terra ainda fácil, tão fácil,

Todas as almas dançáveis,

Todas querendo dentro de ti

Ser o teu corpo porque nunca assim se viveu

A festa de ser um corpo.

 

Nuno Rocha Morais

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