quarta-feira, 15 de setembro de 2021

É evidente, há coisas que não se podem dizer

Para não detonar inconveniências,

Cidades em que é preciso não tropeçar,

Esconder quadros com formas proibidas

Não pelo que se vê, mas pelos olhos que os viram

Sobretudo, muitos pensamentos barbitúricos,

Países que importa não deixar adivinhar

Debaixo de janelas que, para todos os efeitos,

Esgotaram todos os dias e noites.

É evidente, decretar que a abundância da terra

Se reduza a cinzas contritas,

Ouvir-te dizer que não queres, não podes

Saber mais nada de mim

E, depois, essa calmaria sem tempestade,

A calmaria sem ser por nada,

Um restolhar de putrescência

Lá onde não resta alma alguma

Ou, então, o secreto relevo do choro,

A sua orografia na respiração,

O seu súbito rapto por falta de ar.

Tudo muito bonito, até esta tristeza jogral,

Vagamente absurda e que dizes sem objecto.

Veremos, veremos se resulta,

Veremos se alguém escapa

Ao cerco de quanto cala

Ou se alguma traição guiará

Palavras incendiárias por uma poterna do coração.

 

Nuno Rocha Morais


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