terça-feira, 10 de agosto de 2021

 

O ano incerto, abstruso –

A Primavera sistemática, completamente

Estrábica, os absurdos tufos da chuva no Inverno,

A arrogância e soberba dos Verões,

A reticência de Outonos imperceptíveis,

E os amantes chorosos, sem estação

Outra para caírem em leitos de folhas

E que acabam por foder em qualquer lado.

O que se pode esperar de um homem

Senão um homem e uma besta?

A incompetência de um espaço desastrado

Que se derrama em toda a parte e nunca chega,

E se estira e se estatela,

Para por fim revelar o seu rosto

E ser o tempo embuçado,

Um tempo que, por fatigada

Mas sempre vertiginosa velocidade,

Nunca chegou a passar

E nunca foi mais nada senão

Uma máscara do próprio espaço. 

 

Nuno Rocha Morais

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