Canta tudo o que é, todas as coisas,
E aquelas que não são, dá-lhes ser, canta-as,
E canta as coisas mortas
Para as não deixares morrer.
Canta a adversidade,
Não para que ela fique do teu lado;
Canta a imensidão que ilude
Fins sucessivos sem nunca presumir
Ser eterna, não para que ela te prolongue;
Mas canta-as porque a adversidade
E a imensidão te situam,
Canta-as, canta-as sobre o amor acabado,
Canta o amor acabado,
Capta todos os timbres da sua palinódia,
Como mudaram os seus olhos
Como as cores nas águas
Com o mudar do dia.
E ao cantares as coisas que são
Tu és uma coisa que é,
Porque tudo chega ao mundo
Pelo pórtico do teu canto.
Canta um mundo a ouvir-se ser no teu canto
Porque cantas, nada acabou, nada continua
Porque cantas, tudo está,
O que não volta, o que nunca esteve
E o que nunca há-de vir.
Canta e isto significa estares mudo
Para poderes ver, para que a tua voz
Não afaste o mundo, desfigurando-o,
Canta para seres o mundo
E não a volúpia da tua própria voz.
Seja o teu canto quantos solos e quantos climas,
Quantos estratos e quantas eras.
Nuno Rocha Morais
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