quinta-feira, 24 de junho de 2021

Monumento


Não há um monumento à estupidez. 

E, no entanto, ela prolifera

Mas talvez apenas se erga em bronze

A perpetuação de abstracções.

Quanto às estátuas dos grandes homens,

Nada acrescentam à sua grandeza,

Talvez irrepetível e, por isso, assustadora

De que foram, muitas vezes, expropriados.

A sua presença nada dirá aos vindouros:

Será objecto de curiosidade para uns,

E para outros, cada vez mais numerosos,

Não representará nada

Senão uma figura esverdeada

Pela merda das pombas e pelo esquecimento,

Que já não merece o centro de uma praça ou jardim.

Mas estes monumentos, em bronze ou pedra,

Estátuas ou bustos,

Representam, tantas vezes, um brinde

À nossa própria estupidez, perpetuada;

Representam a estupidez de uma geração

Que não soube merecer a grandeza

Dos homens que em sorte lhes couberam.

 

 – Não há um monumento à estupidez:

    A sua linhagem prolonga-se,

    A figuração de abstracções,

    Sejam homens ou animais,

   De valores de grandeza

   Representam o temor

   De que esses valores sejam irrepetíveis.

 

Nuno Rocha Morais


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