terça-feira, 30 de março de 2021

Se é a morte sob a minha pele,

Não me resta consolação outra

Senão pensar que estou a morrer

Satisfeito por ter vivido,

Por ter sido humano,

Por ter amado.

Se estou entregue a sinais

E um sentido inalterável me conduz

À consumação da sua vontade,

Resta-me pensar que nada me destece

E se a morte se consolida

E o céu endurece na ameaça da cerração

E se eu declino, mesmo que o sol

Não incline a sua cerviz

À vontade de um sentido,

Se a luz prossegue porque a treva

Nada depende de mim,

Fico satisfeito e não atendo

À escala de graves

Que fez latejar os seus punhos

Na minha garganta e têmporas.

Não servirei nenhum lamento,

Nenhuma escuridão me espera, servil.

Não ouço édito de expulsão.

 

Nuno Rocha Morais




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