Há horas que é preciso roer, esburgar,
Por mais que os esqueletos do tempo,
Cedo ou tarde, se volvam fantasmas
Que talvez não tenham nunca deixado de ser.
São horas, estas em que espero,
Com o meu irmão, estóico sem filosofia,
A eflorescência de um sorriso,
O sorriso da minha mãe numa cama de hospital
Para a ressurreição da anestesia.
A minha mãe é a alegria desta brancura estéril,
Deste berço de agonias, destas paredes que gemem,
Insones, contra os pesadelos do corpo,
A minha mãe é a minha alegria,
Como o será no paraíso de todos os deuses.
E agora está a minha mãe sossegada
Como o mar saciado de marés.
Como o mar, a minha mãe.
Além dele, estão realmente os fictícios reinos
De monstros e terras em fogo,
Que terão formas outras,
Mas não serão menos de monstros e terras em fogo.
A minha mãe em sossego agora,
Como um mar que espero não acabe.
Embarcaste na vigília,
Vês como tece e destece noites,
Ondulação vazia de sonhos –
Só o gume de um sobressalto,
O episódio de um gemido.
Nuno Rocha Morais
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