I
Porque eu queria dizer amorCom a mesma palavra
De outra maneira,
Talvez porque sinta sufocação,
Afogamento em círculos,
Um dia fechado numa noite,
Incapaz de se prolongar
Na novíssima luz,
Dia asfixiando no tempo.
Porque eu queria dizer amor
Na palavra não concluída,
Mais ampla, expansão,
Ondas e ondas de choque,
Uma palavra de limites
Impensáveis para qualquer arte,
Palavra de alento e espanto,
Palavra que fosse realmente
A coisa que dissesse
Porque eu queria dizer amor
Para o criar
Numa palavra que jamais estancasse.
II
Porque o amor não fica
Nessa palavra,
Mas evola-se em pó,
Subjugado pelo vento
Que preside ao dizer.
E fica o amor prisioneiro
No redil da inaudível pulsação
Que escava a insónia
E é erosão.
O amor não fala de si,
Não pode e não se mata,
Apesar de mais e mais
Despenhado em si mesmo
Dura, sonhando, porém, a sábia sílaba
Que despolete o esquecimento
E lhe ponha fim.
Nuno Rocha Morais
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