domingo, 14 de fevereiro de 2021

I

Porque eu queria dizer amor

Com a mesma palavra

De outra maneira,

Talvez porque sinta sufocação,

Afogamento em círculos,

Um dia fechado numa noite,

Incapaz de se prolongar

Na novíssima luz,

Dia asfixiando no tempo.

Porque eu queria dizer amor

Na palavra não concluída,

Mais ampla, expansão,

Ondas e ondas de choque,

Uma palavra de limites

Impensáveis para qualquer arte,

Palavra de alento e espanto,

Palavra que fosse realmente

A coisa que dissesse

Porque eu queria dizer amor

Para o criar

Numa palavra que jamais estancasse.

 

II

Porque o amor não fica

Nessa palavra,

Mas evola-se em pó,

Subjugado pelo vento

Que preside ao dizer.

E fica o amor prisioneiro

No redil da inaudível pulsação

Que escava a insónia

E é erosão.

O amor não fala de si,

Não pode e não se mata,

Apesar de mais e mais

Despenhado em si mesmo

Dura, sonhando, porém, a sábia sílaba

Que despolete o esquecimento

E lhe ponha fim.


 

 Nuno Rocha Morais


Sem comentários:

Enviar um comentário

Como dói o ignorado humano. Vou, então, procurar Algo semelhante a ternura: O vapor de um chá, A lembrança de um papel antigo no bolso, O qu...