quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021


 

Não me demoro, prometo:

Há, afinal, tantos indícios

De que também o mundo tem pressa,

Tanto vento a levar o dia

Numa respiração desesperada

Com sacos plásticos e folhas e cabelos.

Afinal, como poderia eu ficar,

Se todos os dias há algo mais,

Um pouco mais, do coração

Que é arrastado pela corrente,

Cobrado pela erosão?

Educaram-me a nunca pecar

Pela presença em excesso,

A fazer-me escasso ou invisível

Antes de me tornar indesejável.

Mas será possível que seja

O amor a indesejar-nos?

Sem dúvida, até essas mãos que nos quiseram tanto,

Que queriam agarrar-nos a alma

Com todo o tipo de sortilégios tácteis,

Mãos de dedos alciónicos

Que pareceram prometer tempo,

Calmaria, bonança,

Até esses começam a suar de tédio,

E inventam desculpas para serem livres

E eu prometi sempre que não me demorava.

 

Nuno Rocha Morais

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