Não me demoro, prometo:
Há, afinal, tantos indícios
De que também o mundo tem pressa,
Tanto vento a levar o dia
Numa respiração desesperada
Com sacos plásticos e folhas e cabelos.
Afinal, como poderia eu ficar,
Se todos os dias há algo mais,
Um pouco mais, do coração
Que é arrastado pela corrente,
Cobrado pela erosão?
Educaram-me a nunca pecar
Pela presença em excesso,
A fazer-me escasso ou invisível
Antes de me tornar indesejável.
Mas será possível que seja
O amor a indesejar-nos?
Sem dúvida, até essas mãos que nos quiseram tanto,
Que queriam agarrar-nos a alma
Com todo o tipo de sortilégios tácteis,
Mãos de dedos alciónicos
Que pareceram prometer tempo,
Calmaria, bonança,
Até esses começam a suar de tédio,
E inventam desculpas para serem livres
E eu prometi sempre que não me demorava.
Nuno Rocha Morais
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