Como um touro, a música investe
Contra os corpos e arrebata-os.
Sobre o palco, espirais brancas
Transmutam em gesto a música.
E nos nossos sentidos tensos, envoltos
Na penumbra que nem respira,
Comovida, temendo quebrar
O encanto da música que a cerca
E a aprofunda;
Em nós, nos sentidos tensos,
Também tornados palco,
Vemos a música dançando,
A própria música, felina,
A música que é febre sobre a memória,
A memória esse cristalizado
Movimento perpétuo,
Encontra a música inefável
Que agora habita a matéria.
Assim entra a música em nós,
Só aí pode emudecer
E nunca na crepuscular exaustão do som.
A música canta em nós,
Ainda que muda, domando, alcandorada,
Os ritmos do silêncio,
Vive, muda,
Encontra o cisne que canta para morrer,
Para que nada da ave,
Da música da ave
Fique prisioneira do corpo,
E a outros se conceda.
Nuno Rocha Morais
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