A Alexandre O’Neill
Perdoa-nos, Alexandre, a nós,
Poetazinhos por metáfora,
Rói-unhas, sempre agarrados à vida
A ver se a esticamos um bocadinho mais;
Que fazemos da poesia destilaria,
Não para a dar a todos,
Mas para nos emborracharmos de solidão,
Construirmos o nosso quadradinho iluminado,
Para que os nocturnos nos invejem
E leiam os nossos versinhos e nos agradeçam em bronze —
O da memória só não chega.
Perdoa-nos, Alexandre,
Que não soubemos ser teus herdeiros,
A rir, quando, na verdade, choramos,
A olhar para o espelho e a colar o reflexo em quem somos
E não fazer operações plásticas no pensar e sentir.
Perdoa-nos, Alexandre, a nós,
Poetazecos do beco seco,
Que não sabemos que há dois lados numa linha:
O de cá, que é onde apodrecemos,
A linha que proíbe que passemos
E o lado de lá que nos obriga a passar,
Onde o reino não é de rei nenhum.
Perdoa-nos, Alexandre, a nós
Que não sabemos
Não ousamos chegar ao outro lado,
Chegar ao teu lado,
Real O´Neill,
Onírico O´Neill
Completo O´Neill
Poeta O`Neill
E, ah, português O´Neill
(Ironia até ao fim!)
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