domingo, 4 de agosto de 2019

Poema de cortesia


Foi a porca devoradora das próprias crias,
A mãe que expulsa os seus filhos.
As ruas parecem amáveis
Enquanto passeio por elas,
Enquanto a minha própria mãe
Agoniza, sem mo dizer.
E, no entanto, a policia expulsa
Três sem-abrigo que elegeram
A colunata do Banco da Irlanda
Como tecto provisório para a noite;
E num beco imundo, onde a treva
É ainda medieval,
Outra mãe, com o filho ao colo,
Pede esmola. É claro, os tempos não são sociais,
Mas a alegre culpa não é da Irlanda.
[A culpa morrerá secreta viúva
de palavras de futuro.]

Nuno Rocha Morais

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