sábado, 12 de janeiro de 2019














         A noite chega, nascem baldios lunares
Vejo-te afastar, caminhas para o carro
A manquejar de um joelho,
Subitamente pequena e frágil,
E eu morro noutra direcção.
O amor que já perdido levo em mim,
O amor pelos cafés em pedaços escondido,
Podia salvar dez ou cem vezes
Este mundo de todo o desamor,
Ou talvez não: também o amor é opinião.
A ausência avançou com a noite,
O teu cansaço poderia deter ciclones,
Mas esta dor não vencerá nada,
Não seria capaz de agitar uma folha,
E, sendo tão real, não é sequer um grão.
Caminhas para o carro,
Vou-me fechando com a noite,
Fechando e partindo, fechando e acabando.
O ar é de uma salsugem ferruginosa
E eis o que fica – inverno e cimento.

Nuno Rocha Morais

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