domingo, 5 de agosto de 2018

Homenagem a RUY BELO(seria presságio esta homenagem)


Será o poeta mais verdadeiro
Aquele homem que cedo morre,
Deixando assim a sua palavra infatigável
Perpetuar o poeta?
Será que a morte do homem
Cauteriza a morte na palavra?
Não sei Ruy, não sei,
Mas não saber é o verdadeiro oficio do poeta,
Incendiar a dúvida na palavra:
E onde ela hesita, se torna leve e bruma
Surge o poema.
Tudo isto soubeste, Ruy,
O sacrifício da tua imagem –
Atravessaste com ela os dias,
Afagaste-a nas noites, nos versos
Porque toda a imagem de um homem
É sempre injusta e só o poeta o sabe.
Morreste no verão, a estação, a tua estação,
A estação por onde sempre reconheceste a alegria,
O mar mais amplo ao longo do dia,
Possivelmente, menos salgado, esquecido
Das lágrimas do tempo.
Morreste no verão, onde as noites são menos densas,
Menor é o esforço de morrer,
A morte, um pequeno sopro
E, depois, calma.

Nuno Rocha Morais

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