domingo, 12 de agosto de 2018

A toupeira


Existe apenas para ser uma intrusa,
Escavando galerias na consciência
Até ser percebida por ela: talpídeo.
É um pequeno corpo persistente,
E talvez fosse adorável como animal de estimação,
Se aceitasse a estimação.
Em vez disso, vive nos jardins alheios,
Obstinada na sua independência cega.
É talvez por isso odiosa,
E não tanto por deixar nos jardins
Os inestéticos montículos ou arruinar hortas;
Talvez porque se torna o espelho
Das paixões de bastidores,
Das más intenções que não se denunciam
Sequer por montículos,
Dos pequenos ódios inconfessáveis
E talvez por isso a persigam
Com tanta sofisticação –
Dos químicos aos dispositivos sonoros
E até à subtileza dos explosivos.
Não é justo para a toupeira
Tornar-se uma espécie de consciência.

Nuno Rocha Morais

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