domingo, 4 de setembro de 2016


A tabacaria onde, anos a fio,
Comprei jornais fechou,
Por extrema unção, os vidros
Foram revestidos com folhas
De jornais antigos, mumificando
A velha tabacaria.
E fechou também a pastelaria
Que deixei de frequentar
E obscuramente entendo
Que, doravante e por uns tempos,
Todo o açúcar me pareça sórdido
E guarde um gosto de remorso.
Os hábitos não custam a deslaçar,
Parece quase indolor que sejam
Substituídos por outros
Ou que se ambientem noutros espaços.
Hoje comprei jornais noutro lado
E, transversalmente, ocorre-me
Que todas as religiões estavam certas
E, que a luminescência de um sorriso
É comungada por todos os deuses
Em todas as aras e nos núcleos
De todas as crenças.
A imortalidade cumpriu-se
Em plástico, mercúrio, pesticidas.

  Nuno Rocha Morais

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