O sol entra
secretamente pela janela
E deixa impressões semióticas
na parede
Luz coada por cortinas
de histórias.
O avô pega em mim e
senta-me
Nos joelhos da
marmelada quente
Que a avó criava com mãos
alquímicas.
Gatos de cheiro andam
por cima dos móveis,
Cheiros como passos
rangentes
No chão de mistério de
corredores solenes
Guiando à antiguidade
da escuridão.
O Joli ladra – chegou o
Inverno
Que invade a casa,
arrefecendo-lhe o silêncio.
O Black abre a porta –
que gato!
O avô cuidava das
laranjas,
Eu, atrás dele,
enterrando secretamente a minha infância.
Depois, à noite, a avó
contava-me a mim e às lâmpadas,
Porque é que não
estudou alem da 4ªclasse,
E eu dormia, de rosto
encostado à ternura dos avós.
(O avô fumava Definitivos e a noite não era definitiva
Iam-me murmurando os olhos de cor,
O avô, na tropa, disparando um canhão.)
Nuno Rocha Morais
Poemas Sociais (2019)
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