domingo, 12 de abril de 2015

Os avós

O sol entra secretamente pela janela
E deixa impressões semióticas na parede
Luz coada por cortinas de histórias.
O avô pega em mim e senta-me
Nos joelhos da marmelada quente
Que a avó criava com mãos alquímicas.
Gatos de cheiro andam por cima dos móveis,
Cheiros como passos rangentes
No chão de mistério de corredores solenes
Guiando à antiguidade da escuridão.
O Joli ladra – chegou o Inverno
Que invade a casa, arrefecendo-lhe o silêncio.
O Black abre a porta – que gato!
O avô cuidava das laranjas,
Eu, atrás dele, enterrando secretamente a minha infância.
Depois, à noite, a avó contava-me a mim e às lâmpadas,
Porque é que não estudou alem da 4ªclasse,
E eu dormia, de rosto encostado à ternura dos avós.
(O avô fumava Definitivos e a noite não era definitiva
Iam-me murmurando os olhos de cor,
                   O avô, na tropa, disparando um canhão.)


                     Nuno Rocha Morais

                    Poemas Sociais (2019)




Sem comentários:

Enviar um comentário

A minha voz pode esquecer-te, Mas não o meu silêncio. De sofrer por ti fiz a minha casa – O escárnio e o absurdo Passam sempre, por mais que...