sábado, 25 de abril de 2015






Há uma outra excelência nas cidades
Que têm um rio por alma,
Cidades aéreas e viageiras
Onde até a pedra é volátil,
Corpo nómada.
Desçamos ao cais: O rio à cintura da cidade
As frontarias das casas estão escurecidas
Pela humidade do tempo,
Mas há aqui um prenúncio de passado,
Uma história emergindo da obscuridade
Como a linha da terra emerge
Do horizonte estéril.
Todas as noites, todos os séculos
Se abeiram e aportam aqui
Podemos ouvi-los falar –
E até ver a sua fé cravejada de especiarias, ouro,
Sentir a fragrância dos mortos,
Os seus corpos atravessados
Pelo vento que vem do mar,
E entendemos estes séculos,
Aqui reunidos em consílio.
Partem, majestosos, sobem o rio
Mas deixam sempre vestígios,
Continuamente o passado
Visita o presente e o altera.
E é estranho que as coisas que não conhecemos
Não sejam irreconhecíveis.
As cidades com um rio por alma
Viajam, barcos para subir o esquecimento,

E é estranho que as tenhamos como nossas.

                                                            Nuno Rocha Morais



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