sábado, 12 de outubro de 2024


 Também eu sei muita coisa

Que sedimenta na idade e na voz,

Coisas inúteis de que o tempo se desinteressa,

Saber do passado convocado

Nessas páginas de um sono,

Uma inércia.

Vou aprendendo tanta coisa inútil,

Vou abrindo gaveta após gaveta

E esses baús ciosamente velados

Por pó e treva.

Afinal eu só sei aprender,

Eu só sei saber,

Afinal tudo o que faço é para saber,

Os dias sopram para serem sabidos,

Tudo em si é uma ciência mínima,

Murmura, inapreensível de tão mínima,

Mas saber afinal.

Quanto mais aprendo desta vida,

Inutilidades, minúcias, pormenores,

Quanto mais aprendo a viver

Mais morto me sei.

A minha vida é aprender a morte.


Nuno Rocha Morais

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