quinta-feira, 14 de setembro de 2023


 Tu e eu – isto, sob o sol imperturbável,

As noites mais longas, os dias mais inúteis,

E mais nada, só isto, sem elegia,

Tudo lentamente engolido pelo passado

E, sob a leve película da memória,

Quando mais se diria de água,

Afundam-se contornos indistintos, esbracejando,

Tu e eu, enquanto nos habituamos

À nossa condição de náufragos – e afogados.

O amor foi como uma carta,

Igualmente frágil, amarrotado,

Extraviado, deixa o desespero

À cabeceira do fim, que está atrasado,

Se demora, talvez nunca chegue.

Há afinal tanta coisa que não acaba,

Tantas cartas que se continuam a escrever

Muito depois de a mão ter detido

O seu percurso, muito depois de o campo

Estar lavrado, queimado por geada –

Há afinal o próprio amor que não acaba

E murmura tanta coisa que não é sequer memória.

Dirás: viveste afinal quando

Tínhamos prometido morrer?

Não faltei, perjuro, à minha morte,

Esteve sempre contigo.

Que fará de nós o absurdo orgulho

De alta escola, o que de nós

O amor irreparável?



Nuno Rocha Morais

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