domingo, 9 de julho de 2023

Vilnius no fim do Verão

 


É a primeira imagem da nova Europa –

Assim lhe chamam, mas esteve sempre aqui –

Imolada, renascida.

Vytautas, Mindaugas, Barbora Radvilaitè –

A espada e a beleza, a astúcia e a graça.

Aqui, o Verão, mesmo o fim do Verão, é livre ainda,

Corre pela tarde que vem do sânscrito.

As torres acordam com a noite.

O céu esteve muito tempo enterrado,

Mas quando passamos pelas estátuas ao lusco-fusco,

É quase possível sentir a formação de um sorriso,

Como se dentro delas influísse ainda

A instilação de sangue e pó que vem no vento.

A terra bebeu os mortos até à última gota

E devolve-os agora no esplendor do Verão.

Os bosques só crescem nos países livres

E isto não precisa de verdade para ser verdadeiro.

O Inverno vai chegar, mas o Verão não tem medo

E, em Setembro, é ainda ouro, âmbar, espelhos.

Acabou a indiferença da arquitectura,

Agora sensível ao Verão e à luz,

Como será à neve e ao vento.

Uma cidade de pálpebras

Obstinadamente cerradas

Pela indiferença,

O horizonte cortado rente.


Nuno Rocha Morais

 

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