domingo, 7 de maio de 2023

             Stabat filius

 

E era a mãe que sofria. Cruz e noite.

Fechava-se, o seu riso diluía-se.

O filho ouve na voz da mãe

O lastro escuro de uma resignação,

Sulcada por veios grossos de amargura,

Tudo afinal a apodrecer em enganos –

A mãe coragem está cansada, tem medo,

E a idade do medo é sempre menina,

E eu tento fazê-la rir,

E espero ter guardado em mim,

Depois de anos a fio com esse riso a pegar em mim,

Um riso suficientemente poderoso

Para, com uma gargalhada ex machina,

Agora a salvar. Dorme, mãe, dorme um sono pequenino.

Revoada potente e luminosa, hoste dourada

Percorrendo corredores, recantos, desvãos,

Onde costumam esconder-se todos os medos,

Desencantando as sombras dos seus terrores.

Mãe tamanhinha, de idade menina

Ingénua, empreendedora, curiosa, dinâmica, incansável,

Determinada. Não suspires, mãe, de tanto mudar cansada,

Pela expiração da mudança.


Nuno Rocha Morais


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