Stabat filius
E era a mãe que sofria. Cruz e noite.
Fechava-se, o seu riso diluía-se.
O filho ouve na voz da mãe
O lastro escuro de uma resignação,
Sulcada por veios grossos de amargura,
Tudo afinal a apodrecer em enganos –
A mãe coragem está cansada, tem medo,
E a idade do medo é sempre menina,
E eu tento fazê-la rir,
E espero ter guardado em mim,
Depois de anos a fio com esse riso a pegar em mim,
Um riso suficientemente poderoso
Para, com uma gargalhada ex machina,
Agora a salvar. Dorme, mãe, dorme um sono pequenino.
Revoada potente e luminosa, hoste dourada
Percorrendo corredores, recantos, desvãos,
Onde costumam esconder-se todos os medos,
Desencantando as sombras dos seus terrores.
Mãe tamanhinha, de idade menina
Ingénua, empreendedora, curiosa, dinâmica, incansável,
Determinada. Não suspires, mãe, de tanto mudar cansada,
Pela expiração da mudança.
Nuno Rocha Morais
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