Nuno Rocha Morais
quarta-feira, 31 de agosto de 2022
sexta-feira, 26 de agosto de 2022
É por causa dos anéis que os dedos se julgam reais –
E é a oposição entre a luz dentro
E a escuridão fora que dá consistência
Ao interior, diluindo o exterior?
O lugar é uma conjectura incongruente
E o que é que realmente nos torna reais:
Uma dívida, um número de telefone,
O nome de uma lápide?
A irrealidade irá dar o assalto final,
Baralhar interior e exterior,
Num roque inesperado,
Tudo nos consome, mas na realidade
O que é que nos consuma?
Nuno Rocha Morais
domingo, 21 de agosto de 2022
segunda-feira, 15 de agosto de 2022
Foram anos muito tristes,
Anos em que ganhei dinheiro
E não servia para nada,
Para gáudio dos moralistas.
Anos em que almocei e jantei sozinho,
Em que recusei todos os convites
Enquanto esperava por ti.
Já te havia perdido, mas não o admitias,
E, mesmo sabendo-o, estava-te grato,
Grato até pela agonia.
Foram anos em que provei
Todos os presumíveis sabores da merda,
Sem nada poder dizer:
A tristeza é um dever que não se partilha.
Nuno Rocha Morais
segunda-feira, 8 de agosto de 2022
Mar
Enche todos os níveis:
Dura, é imenso,
Invade o odor,
Suspende de espanto o olhar.
Ribomba nos tímpanos,
Gela o tacto,
Domina o gosto.
Nardo de firmeza e poder,
Sumptuoso, imenso,
Coroado pelo sol ou luar,
Não suporta a traição:
Às ondas que desertam,
Que pretendem fundir-se na areia
Sorve e doma-as,
Desvanecendo-as.
Nuno Rocha Morais
segunda-feira, 1 de agosto de 2022
De novo, o Verão se lançou ao assalto de Agosto,
Trouxe as suas árvores, aves, horas,
Trouxe o seu rito, o seu ritmo
Indolente, a cidade quase não tem pulso,
Quase não tem tensão arterial –
Sossego de não haver vento,
Mas apenas o ar em bloco,
Bloco abafante, enraizado.
É Verão, quase todos deixaram
As suas mãos operárias na cidade
E lançaram-se na conquista
Das coisas conhecidas, mas já esquecidas,
O que é bastante mais difícil
Do que tactear um espaço envolto em desconhecido
São quase todos argonautas do verde e do mar.
Querem purificar-se no longe,
Despir por um momento a pele
Que recebe fumo, suor, pó, cansaço,
Deixar para trás a insolubilidade das contas,
Que são, afinal, a própria vida.
É Verão e, por ora, a cidade foi domada.
Nuno Rocha Morais
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