sábado, 10 de abril de 2021


Também o inferno evoluiu,

Já não se mantém à distância

Por força de fé, devoção, exorcismo.

As religiões estão perplexas em uníssono,

Assombradas, porque o inferno se deslocou,

Se trasladou: já não está em baixo,

Ou apenas em baixo, mas também por cima,

Dos lados, talvez até já dentro. Aqui?

Alguns profetas dos factos consumados

Dizem que o inferno está

No coração dos homens.

Quem o diz lá sabe.

Para os oficiantes, mudou tudo,

A escuridão sobe nos templos e espalha-se,

Já mal se vislumbram os templos,

A menos que sejam apenas a pedra.

O inferno evoluiu, já é também uma substância,

Um gás, um ser vivo e mortífero,

Um degelo súbito que enraivece as águas.

Há quem ouça, dia e noite,

Os golpes do inferno, desferidos

Sem fúria, mas com a certeza,

Cada vez maior de vitória.

Qual vitória? Derrota de quem?

Há quem ouça e jamais tenha deixado de ouvir,

Os gritos dos condenados.

A maioria, como sempre não diz nada,

Limita-se a ouvir os golpes.

Talvez o inferno não esteja ainda

 Dentro de portas, mas está, sem dúvida

Mais perto.

 

Nuno Rocha Morais

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