Também o inferno evoluiu,
Já não se mantém à distância
Por força de fé, devoção, exorcismo.
As religiões estão perplexas em uníssono,
Assombradas, porque o inferno se deslocou,
Se trasladou: já não está em baixo,
Ou apenas em baixo, mas também por cima,
Dos lados, talvez até já dentro. Aqui?
Alguns profetas dos factos consumados
Dizem que o inferno está
No coração dos homens.
Quem o diz lá sabe.
Para os oficiantes, mudou tudo,
A escuridão sobe nos templos e espalha-se,
Já mal se vislumbram os templos,
A menos que sejam apenas a pedra.
O inferno evoluiu, já é também uma substância,
Um gás, um ser vivo e mortífero,
Um degelo súbito que enraivece as águas.
Há quem ouça, dia e noite,
Os golpes do inferno, desferidos
Sem fúria, mas com a certeza,
Cada vez maior de vitória.
Qual vitória? Derrota de quem?
Há quem ouça e jamais tenha deixado de ouvir,
Os gritos dos condenados.
A maioria, como sempre não diz nada,
Limita-se a ouvir os golpes.
Talvez o inferno não esteja ainda
Dentro de portas, mas está, sem dúvida
Mais perto.
Nuno Rocha Morais
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