domingo, 18 de abril de 2021

Fotografia do túmulo de Camões


 A luz anónima de uma tarde qualquer

Entra pelo vitral, afasta suavemente a penumbra

E ilumina o túmulo do poeta,

Num simbolismo demasiado evidente à primeira vista.

Mas a fotografia foi tirada por um dinamarquês

Turista que provavelmente

Não sabe sequer quem é Camões –

Ou se sabe, não autopsiou o segredo

Das correrias, dos amores venais e platónicos,

Das desilusões, da tença, da miséria, -

Serenidade, a justa recompensa

Para um corpo que não está sequer aqui,

No claustro das glórias.

Surpreendeu apenas, naquele canto despojado,

Uma eternidade alumbrada pelo próprio tempo

Que desceu com um instante da eternidade

No ínclito de uma tarde.

 

Nuno Rocha Morais

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