Acreditar
na palavra? Porquê?
Porquê, se a sua
aparência esmaga os sentidos,
Porquê, se a verdadeira
palavra
Foge, aérea de voz em
voz,
De verso em verso,
inalcançável?
Porquê se a imagem
Que reflectimos na
palavra
Nunca é inteira, nunca
é completa?
Porquê, se na palavra o
que dizemos
Se refracta e dissolve
e perde,
Se a palavra é apenas o
artifício navegável,
Um prelúdio do
silêncio?
Ainda assim,
afundamo-nos nas palavras
Bebemos-lhes a cicuta
espectral,
Cremos e entramos nelas
e perdemo-nos
Na tempestade de areia
do seu esquecimento,
Em que de nós mesmos
desaparecemos.
Nuno Rocha Morais
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