sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Aviso


Acreditar na palavra? Porquê?
Porquê, se a sua aparência esmaga os sentidos,
Porquê, se a verdadeira palavra
Foge, aérea de voz em voz,
De verso em verso, inalcançável?
Porquê se a imagem
Que reflectimos na palavra
Nunca é inteira, nunca é completa?
Porquê, se na palavra o que dizemos
Se refracta e dissolve e perde,
Se a palavra é apenas o artifício navegável,
Um prelúdio do silêncio?
Ainda assim, afundamo-nos nas palavras
Bebemos-lhes a cicuta espectral,
Cremos e entramos nelas e perdemo-nos
Na tempestade de areia do seu esquecimento,
Em que de nós mesmos desaparecemos.


Nuno Rocha Morais

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