quinta-feira, 7 de junho de 2018

(Amanhã fará dez anos que o Nuno nos deixou... Vou tratar da sua cremação e trazê-lo para casa, onde ele se sentia feliz)

Cremação

Ei-lo, sem luto e sem tento:
O ar fresco da manhã
Chega junto do teu corpo,
Que agora devolve todos os seus instantes,
E não se sabe comportar,
Chega como quem fala alto.
Serás de cinza.
Um comboio passa, só rumor,
A chuva é cada vez mais violenta,
Mas a este silêncio apenas chega o ar da manhã,
Fresco, gárrulo.
A sua mão espalhará a sua morte
A um vento de mil mariposas,
Nascidas de uma alegria feita carne e pétalas,
Quase alegria.
A morte sem dolo e pestilência.


       Nuno Rocha Morais 

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