domingo, 17 de dezembro de 2017

“Meditações”

Aí está, Marco Aurélio, um homem indefeso
Perante as necessidades do Império,
Um homem que apenas queria uma vida
Entre quatro paredes, algumas ruas, uns poucos rostos,
Não esta imensidão viva,
Onde o latim é bombeado como sangue
E como sangue repelido.
Aqui está um homem perfeitamente comum,
Entre as coortes, atrás de um estandarte,
A glória há-de ser só umas jeiras de terra,
Não mais, Marco Aurélio, não mais
E vê como esse homem fraqueja,
Amaldiçoa, chora, como lhe pesa
O pilo, o elmo, o escudo, a marcha,
Como tem fome e tem sede,
Como o seu corpo teme igualmente
O calor e o frio. Não é um estóico,
Não é uma pedra de um império senil,
É um homem, quer vinho e mulheres,
Precisa periodicamente de não ser razoável,
De assassinar a equanimidade
E por isso será cobarde ou terá coragem.
Perdoa-lhe, Marco Aurélio:
És o imperador, ele segue-te,
Sem filosofia e, às vezes, sem deuses,
É só um homem.

Nuno Rocha Morais

2 comentários:

  1. Profunda reflexão sobre si mesmo, a partir da obra de Marco Aurélio. Este poema, pelas tensões suscitadas, não se exaure no texto mas prolonga seus efeitos muito além disso.
    Aqui a minha tradução. Grande abraço
    Manuela

    “Meditazioni”

    Ecco, Marco Aurelio, un uomo indifeso
    Davanti alle necessità dell’Impero,
    Un uomo che null’altro vorrebbe che una vita
    Tra quattro pareti, qualche strada, poche presenze,
    Non questa immensità pulsante,
    Ove il latino è pompato come sangue
    E come sangue espulso.
    Ecco un uomo perfettamente comune,
    Tra le coorti, dietro uno stendardo,

    La gloria dev’essere solo qualche acro di terra,
    Non di più, Marco Aurelio, non di più
    E vedi come quest’uomo si strema,
    Impreca, piange, come gli pesa
    Il pilo, l’elmo, lo scudo, la marcia,
    Come soffre la fame e la sete,
    Come il suo corpo parimenti teme
    Il calore ed il freddo. Non è uno stoico,
    Non è pietra d’un impero senile,
    È un uomo, vuole vino e donne,
    Ciclicamente ha bisogno di non esser razionale,
    Di sopprimere l’imparzialità
    E perciò sarà codardo o mostrerà coraggio.
    Perdonalo, Marco Aurelio:
    Sei l’imperatore, lui ti segue,
    Senza filosofia e, a volte, senza dei,
    È solo un uomo.

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    Respostas
    1. Cara Manuela, muito obrigada pelas suas traduções e belíssimos e oportunos comentários aos poemas do Nuno.
      Só uma alma sensível e poética consegue perspectivas valiosas da obra do Nuno.
      De facto creio que o Nuno gostaria de ter levado uma vida simples e familiar como Marco Aurélio e em nome dele reflecte sobre a sua própria vida.
      Um braço enorme cheio de profunda amizade

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