Ó Deus feito de dor,
Ó Deus encarcerado num homem,
A tua agonia derradeira e infinita
Estorce-se ainda sobre a nossa alma:
O eco de uma culpa enrouquecida
Sobe da garganta dos tempos
E bate no peito.
No roxo cimo dos séculos,
Por nós, por mim morres,
Num sussurrado sismo te esvais.
Mas, ó Deus, humano morreste
Para que fosses Deus,
Para que as pedras se conjugassem
Com o incenso e as máximas vozes dos homens,
Para que o bem e o mal
Não fossem a mesma matéria informe.
Fragmentaste-nos, dividiste-nos,
Somos o verbo dilacerado entre treva e luz.
Ó Deus, acabaste com a nossa inocência.
Nuno Rocha Morais
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