terça-feira, 12 de abril de 2022

 Ó Deus feito de dor,

Ó Deus encarcerado num homem,

A tua agonia derradeira e infinita

Estorce-se ainda sobre a nossa alma:

O eco de uma culpa enrouquecida

Sobe da garganta dos tempos

E bate no peito.

No roxo cimo dos séculos,

Por nós, por mim morres,

Num sussurrado sismo te esvais.

 

Mas, ó Deus, humano morreste

Para que fosses Deus,

Para que as pedras se conjugassem

Com o incenso e as máximas vozes dos homens,

Para que o bem e o mal

Não fossem a mesma matéria informe.

Fragmentaste-nos, dividiste-nos,

Somos o verbo dilacerado entre treva e luz.

Ó Deus, acabaste com a nossa inocência.

 

Nuno Rocha Morais


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