domingo, 20 de fevereiro de 2022

Polifemo


Uma geringonça humana.

Desejaria ter-te convertido

Em promontório. Assim não o quis

A ira insondável dos deuses.

Punição por ter nascido assimétrico,

Ferindo toda a noção

De medida e proporção.

Qual foi o desafio? Ninguém sabe.

Sucumbiu às astúcias da beleza

Quando todo o seu mundo era uma ilha

Onde guardava rebanhos.

Como segunda punição, os deuses

Quiseram reparar o seu erro.

Cego, gritando contra Ninguém,

Chamando por Ninguém, clamando vingança

Contra Ninguém, escarnecido por Ninguém,

Mais do que nunca desejou o ciclope

Converter-se em promontório.

E este desejo gerou a sua prole.

 

Nuno Rocha Morais

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não quer nada cada um dos meus versos Às vezes, alíseos, Outras, fantasiosas paisagens, Outras ainda resumos de pedras. Cada um dos meus ver...