Uma geringonça humana.
Desejaria ter-te convertido
Em promontório. Assim não o quis
A ira insondável dos deuses.
Punição por ter nascido assimétrico,
Ferindo toda a noção
De medida e proporção.
Qual foi o desafio? Ninguém sabe.
Sucumbiu às astúcias da beleza
Quando todo o seu mundo era uma ilha
Onde guardava rebanhos.
Como segunda punição, os deuses
Quiseram reparar o seu erro.
Cego, gritando contra Ninguém,
Chamando por Ninguém, clamando vingança
Contra Ninguém, escarnecido por Ninguém,
Mais do que nunca desejou o ciclope
Converter-se em promontório.
E este desejo gerou a sua prole.
Nuno Rocha Morais
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