Que alguém fale
Da nossa morte
Para que possamos voltar à vida.
Pelos descampados da ausência,
Somos o silêncio
E essa voz luzindo
Devolve os nossos nomes
Às palavras,
Às sua agulhas de sangue.
Dizemos, então,
O adeus do regresso.
Nuno Rocha Morais
Esculpido no espaço,
Caminho talhado em suor.
Descendentes do relâmpago,
Da pedra, do vento, da altura,
Da distância, da água,
Seres recortados no esforço.
Entregam-se e dão:
Para muitos a dádiva do choro.
Para tão poucos,
Um movimento imobilizado em ouro.
Nuno Rocha Morais
Dois ou três corvos sobre a neve
Que saltitam entre crocitos;
Espanta-espiritos, o riso da minha mãe,
Enquanto lhes dá pão,
Um riso onde tinem pingentes
De puro júbilo,
E, depois, reparado o silêncio,
Vibra uma paz desconhecida –
E esta vibração de hino,
Que mais poderia ser senão alegria?
Nuno Rocha Morais
Só as crianças morrem
Com os olhos abertos.
São esses que a morte colhe
E deixa cair docemente sobre as flores.
A cor é o olhar das crianças.
Nuno Rocha Morais
Ser apenas um rosto e um nome
Poucas vezes usado, cada vez menos,
Até que entre si os sons perdem os sentidos
E o nome se desagrega e se extingue.
O rosto, esse desvanece-se,
As feições desaparecem no vazio.
Não faz falta, era desnecessário,
Se isto se pode dizer de um rosto, de um nome,
Se é que a ausência deste rosto, deste nome,
Não serão para sempre a brecha
Impossível de colmatar,
O dedo que já não está no dique.
Não era só um rosto, não era só um nome.
Nuno Rocha Morais
Combinei um encontro
Com ela e com a noite.
Apenas a noite compareceu.
Combinei um encontro
Com ela e com o tempo.
Apenas o tempo compareceu.
Combinei um encontro
Com ela e com o amor.
Apenas o amor, às golfadas
Constantes e ardentes
Compareceu. Não ela.
Com a noite superficial e nua,
Com o tempo e as suas pegadas nas veias,
Com o amor singular,
Compareceu a solidão elíptica.
Nuno Rocha Morais
O ar bárbaro do mar encerra as veias E o choro dos ausentes. O vento range memórias de amarras E o sal traça o odor de epopeias marítimas. A...