domingo, 14 de fevereiro de 2016

À hora de almoço, tantos afazeres.
Que dia é hoje? Expirou algum prazo?
É importante não querer nada,
Mas tendo de o desejar muito,
E hoje, por um qualquer extravio de calendário,
Sentes-te vagamente finado
Quando, afinal, é Dia de S. Valentim.
Sim, já sabemos tudo sobre retórica
Das convenções e comunicação comercial,
E nada muda o facto de ser
Dia de S. Valentim, o primeiro sem uma palavra
Dela, que, de resto, eu também não disse,
Parecendo estar dada a ordem tácita
Para se instalar o silêncio.
Resigno-me, sou doentio e secundário,
Talvez por isso seja hoje tão importante
Não querer nada, ainda que eu não tenha,
Por ser dia de S. Valentim,
Força para o desejar muito.
Passarei o dia a esconder-me do que quero,
A evitar nomeações, nostalgias, apóstrofes,
A deriva de um estúpido suspiro
Pode perder toda a minha determinação,
Na qual, aliás, não confio nada.
Passarei o dia a esconder-me, ciente
De que, ao fim e ao cabo, o desejo
Me encontrará sempre, nada a fazer,
Salvo suspirar, licito hoje sem querela
Porque afinal, é Dia de S. Valentim,
E respiro fundo, vagamente finado,
Cipreste e Novembro

Nuno Rocha Morais

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