À hora de almoço,
tantos afazeres.
Que dia é hoje? Expirou
algum prazo?
É importante não querer
nada,
Mas tendo de o desejar
muito,
E hoje, por um qualquer
extravio de calendário,
Sentes-te vagamente
finado
Quando, afinal, é Dia
de S. Valentim.
Sim, já sabemos tudo
sobre retórica
Das convenções e
comunicação comercial,
E nada muda o facto de
ser
Dia de S. Valentim, o
primeiro sem uma palavra
Dela, que, de resto, eu
também não disse,
Parecendo estar dada a
ordem tácita
Para se instalar o silêncio.
Resigno-me, sou doentio
e secundário,
Talvez por isso seja
hoje tão importante
Não querer nada, ainda
que eu não tenha,
Por ser dia de S.
Valentim,
Força para o desejar
muito.
Passarei o dia a
esconder-me do que quero,
A evitar nomeações,
nostalgias, apóstrofes,
A deriva de um estúpido
suspiro
Pode perder toda a
minha determinação,
Na qual, aliás, não
confio nada.
Passarei o dia a
esconder-me, ciente
De que, ao fim e ao
cabo, o desejo
Me encontrará sempre,
nada a fazer,
Salvo suspirar, licito
hoje sem querela
Porque afinal, é Dia de
S. Valentim,
E respiro fundo,
vagamente finado,
Cipreste e Novembro
Nuno Rocha Morais
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