sábado, 26 de julho de 2025

Romance


 

Eu disse que te amava

Sob a respiração do luar

Respondeste

 

                                               O céu estilhaça-se

                                               À passagem dos corvos

 

Eu repeti a ardência nos olhos

Das palavras e disseste

 

                                               A noite solidifica-se na voz

 

Eu soltei a minha voz

                                                Afirmaste 

                                               A Primavera rompe-se

                                               No amargor inclinado das flores

 

Exasperei-me nada compreendendo

De quanto dizias

Por detrás de cada palavra

Há apenas vácuo de sentido

 

                                               Sentenciaste

 

Fui-me embora arrastando

Os juncais da mágoa

 Ainda te ouvi

 

                                               O regresso é a justificação da ausência 

 

Nuno Rocha Morais 

domingo, 20 de julho de 2025

Come In (Entre)


Chegando ao limiar do bosque,

Canto de tordo – atento!

Se agora era o acaso fora,

Estava já escuro dentro.

 

Já muito escuro para a ave,

Embora no bosque voasse

Mudando o pouso para a noite,

Embora ainda cantasse.


O último dos raios de sol

Que a oeste estava morto

Para uma canção mais vivia

No peito deste tordo.

 

Lá ao longe, no escuro erguido,

A música no ar –

Quase um apelo a que entrasse

No escuro para chorar.

 

Mas não, eu procurava estrelas... 



Nuno Rocha Morais

sábado, 12 de julho de 2025

És esperada 
Como uma safra de abundância,

Como um céu novo

No fundo da manhã

Para desvanecer

As trevas da agonia.

És esperada

Como a inspiração das águas,

Como a brisa que reverdece

O silêncio queimado.


                                        Nuno Rocha Morais

sábado, 5 de julho de 2025

Obsessão

 Bendita a morte,


Se consente que a não saibamos,

Maldita a vida,

Se consciência de acabarmos.

 

Nuno Rocha Morais

A noite fugindo pela saudade dentro, A saudade entrando pelo teu rosto, Luz insone e constante Que narra a tua memória.   Por onde se desper...