domingo, 26 de janeiro de 2025

Litania da libertação




                                                                        "por onde alcançar o azul da terra

                                                                        onde se confundem a chuva e os ausentes"

                                                                                                                        Pablo Neruda


Onde o dia se confunde com o horizonte;

Onde o espelho se confunde com o sangue;

Onde o Inverno se confunde com o sono;

Onde a teia se confunde com a boca;

Onde o vinho se confunde com a explosão;

Onde os pássaros se confundem com a luz;

Aí, nesse lugar, nesse tempo,

Onde o espaço se confunde com o sonho,

E o tempo com um tema exaurido,

Aí, eu não me confundirei comigo,

O ausente. 


Nuno Rocha Morais (Galeria 2016)

domingo, 19 de janeiro de 2025

À minha volta, um excesso de presenças.

Em cada objecto, um elo de memória,

Um rasto de tempo passado 

Guia-me até às bases do silêncio,

Onde uma imagem resiste.

As faces rodam

E tudo em mim se espelha,

Nada se grava.

 

                                                Penso na amnistia da estranheza.


Nuno Rocha Morais 

sábado, 11 de janeiro de 2025

Definição

É algo que não pode voltar,
Como um rio que passa,

E dura, e jamais volta.

É algo como um sono

Em que o voo se dissolve

E de onde nunca mais se liberta.

É a extensa neve da escuridão,

Da perda, é algo de coisa nenhuma. 


Nuno Henrique Rocha Morais

domingo, 5 de janeiro de 2025


Às vezes, regressar não é bem um regresso
Se já nada ficou do lugar

De onde se partiu.

O regresso pode ser anulado

Pelos olhares que a indiferença apouca,

Pela sombra de coisas que já não existem,

Pela sombria aragem de uma seiva perdida.

Um lugar é um lento fruto de sabor rápido,

Esboroa-se e os seus sedimentos dispersam-se. 


Nuno Rocha Morais

A minha voz pode esquecer-te, Mas não o meu silêncio. De sofrer por ti fiz a minha casa – O escárnio e o absurdo Passam sempre, por mais que...