domingo, 10 de novembro de 2024


Legítima e vaporosa a imóvel dança
Da ilusão nas suas vestes

Coloridas e ritmadas

Legitima a ilusão 

De que um estro clareia

No mais fundo das cordas

Que às vezes me servem de dedos e palavras

Legitima a ilusão de que a poesia

Encosta a verdade como verdade –

Quer fazer-me cantar a poesia

Para que a minha voz vaze

Até às profundezas de uma nudez

Para que não mais transborde

De um isolamento de um naufrágio

De uma morte

Para que não mais eu raie os símbolos

E consuma as metáforas

Para que eu deixe figuras e vitrais e formas

Assombrosas geometrias para os ungidos

Cala-me a poesia com ilusão dela

Na erógena voz roça leves e finos cantos

Quase linho quase luz

Mas eu respondo-lhe com um milénio

De pedra treva claustral

Calo a poesia que me cala

E calado não mais deixarei que me calem 


Nuno Rocha Morais

sábado, 2 de novembro de 2024

 Os mortos vão à sua vida,

        Os vivos vão à sua morte.

        A única súplica possível

        Aos nossos mortos é que das suas preces

        Não nasçam mastins, legiões,

        A aziaga esponja, os demónios.


                             


         Nuno Rocha Morais



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