sábado, 25 de outubro de 2025


Olha para além de mim
Através de mim

E leva-me no olhar

Para onde olhares.

Depois onde os teus olhos

Se semeiam, criam-me:

Aí ficará a árvore do que sou. 


Nuno Rocha Morais

sábado, 18 de outubro de 2025


Os homens enganam-se

E isso é quase sempre a História,

Mas a História nunca se engana.


Nuno Rocha Morais 

domingo, 12 de outubro de 2025


 O Outono pressuroso na cadência das folhas.

Aqui, não há razão sequer para ter um nome.

O que se sente é como os ventos –

Muitos não vêm nos dicionários,

Anónimos iludem todas as redes conhecidas.

Também desconhecida esta gratidão

Pelo rosto da manhã a cada janela.

O ar cristaliza o silêncio das ruas

E parece deixar sal nos olhos,

Que se julgam, também eles, sujeitos ao Outono,

Uma tentação fácil quando estão cientes

De que pouco podem mudar, só ser mudados.

Agora, os corações são frágeis, zumbem muito,

Vivem ofegantes como se trouxessem

Noticias do reino dos mortos

E agora entregam-se, também eles,

Como frutos da época, tocados,

Bicados pelas aves de muitas noites,

Ou sentam-se com velhos e pombos

Em jardins públicos, sob um sol flébil,

E ouvem, à capella, o Outono e a tarde.


Nuno Rocha Morais

Poemas dos dias (2022)

sábado, 4 de outubro de 2025

Saber é cindir, separar,
Iluminando a fracção ínfima

De um continente de escuridão;

Saber é a infracção.

O que se sabe é o que está 

Realmente à deriva

No pequeno redil de todas as estrelas.

Saber é refractar sem escolha. 


Nuno Rocha Morais

Não será o amor Apenas um exercício de solidão? Por mais que as bocas  Se reúnam nos frutos do fogo, Por mais que busquemos, Morremos sempre...