Olha para além de mim
E leva-me no olhar
Para onde olhares.
Depois onde os teus olhos
Se semeiam, criam-me:
Aí ficará a árvore do que sou.
Nuno Rocha Morais
Aqui, não há razão sequer para ter um nome.
O que se sente é como os ventos –
Muitos não vêm nos dicionários,
Anónimos iludem todas as redes conhecidas.
Também desconhecida esta gratidão
Pelo rosto da manhã a cada janela.
O ar cristaliza o silêncio das ruas
E parece deixar sal nos olhos,
Que se julgam, também eles, sujeitos ao Outono,
Uma tentação fácil quando estão cientes
De que pouco podem mudar, só ser mudados.
Agora, os corações são frágeis, zumbem muito,
Vivem ofegantes como se trouxessem
Noticias do reino dos mortos
E agora entregam-se, também eles,
Como frutos da época, tocados,
Bicados pelas aves de muitas noites,
Ou sentam-se com velhos e pombos
Em jardins públicos, sob um sol flébil,
E ouvem, à capella, o Outono e a tarde.
Nuno Rocha Morais
Poemas dos dias (2022)
Não será o amor Apenas um exercício de solidão? Por mais que as bocas Se reúnam nos frutos do fogo, Por mais que busquemos, Morremos sempre...