sábado, 11 de maio de 2024

Falo contigo, ou antes,
Como da tua mão

E, se não olho, são

Penas os meus dedos

E asas os braços

Que desaprenderam

Toda a leveza.

Falo contigo

À procura de sementes,

De grão em solo duro,

Aspereza avara,

Rio-me porque engana

O rebrilho de berloques

Que levo e nada valem

Para a minha fome.

É triste, enreda-me o frio

Quando falo contigo,

Enredou-me o frio

Nesse ninho ao telefone.


Nuno Rocha Morais 

sábado, 4 de maio de 2024


Onde estais versos magníficos,
Cantos de fachada belíssima,

Naves de silêncio imponente,

Palavras que ultrapassam o tempo,

Onde estais, que apenas vejo

Versos apodrecidos, que nem vão

Além da página que facilmente os doma?

Onde o vento, onde os sinos,

Onde as janelas que, todas somadas,

Fariam o poema sublime

Que nem o esquecimento de uma Eternidade inteira

O poderia dissolver em mudez?

Onde o verso, barco acordado e invencível,

Que só vejo o momento seco de um cardo?

Onde a beleza, sendo a única que diviso

A que resta de um sonho em ruínas?

Inexoravelmente, o meu verso

Se divide no espaço

E retorna ao peso do silêncio,

Aprisionado no centro de uma idade.


Nuno Rocha Morais 

Falo contigo, ou antes, Como da tua mão E, se não olho, são Penas os meus dedos E asas os braços Que desaprenderam Toda a leveza. Falo conti...