domingo, 30 de novembro de 2025

De porto em porto,
O cabelo amadurece.

As fábulas tornam-se finas,

As histórias desdentadas

E as palavras atingiram o cume do rosto,

O vento semeou nelas o canibalismo.

A palavra mínima 

Alberga nos seus desvãos um “tsunami”. 


Nuno Rocha Morais

domingo, 23 de novembro de 2025

Como uma onda,
A memória, secretíssima e felina,

Acorda o meu silêncio.

Onde acordarei,

Onde será o presente

Um reino pesado e esquecido?


Nuno Rocha Morais 

sábado, 15 de novembro de 2025

Não será o amor
Apenas um exercício de solidão?

Por mais que as bocas 

Se reúnam nos frutos do fogo,

Por mais que busquemos,

Morremos sempre em nós,

Sozinhos.

E é o amor, a sua escuma

Sobre o coração abandonado,

Tantas vezes, escombros, que grita

Ser impossível não estarmos

Sozinhos. 


Nuno Rocha Morais 

sábado, 8 de novembro de 2025

Quando me dispus a perder-te
Porque não vivia sem ti,

Fiz de perder-te um jogo,

Uma construção abstracta

Cujo governo uma parte de mim

Recusou e combateu.

Os dois partidos travaram

Uma sangrenta e confusa batalha,

Retiraram-se e ambos 

Proclamaram a vitória,

Chorando em segredo a derrota

Neste amor sem quartel. 


Nuno Rocha Morais

sábado, 1 de novembro de 2025

O ar bárbaro do mar encerra as veias
E o choro dos ausentes.

O vento range memórias de amarras

E o sal traça o odor de epopeias marítimas.

As ondas que desmaiam na praia

Guardaram o som das bombardas,

O seu arder, o seu alarde.

Gaivotas com corpos de nuvem

Repetem gritos de alvas velhas velas.

As rochas, primeiro erguer

Da pátria no horizonte

Conservam ainda o ancestral sonho,

Estendem os braços verdes para o mar,

Apontam ainda o rumo. 


Nuno Rocha Morais

sábado, 25 de outubro de 2025


Olha para além de mim
Através de mim

E leva-me no olhar

Para onde olhares.

Depois onde os teus olhos

Se semeiam, criam-me:

Aí ficará a árvore do que sou. 


Nuno Rocha Morais

sábado, 18 de outubro de 2025


Os homens enganam-se

E isso é quase sempre a História,

Mas a História nunca se engana.


Nuno Rocha Morais 

De porto em porto, O cabelo amadurece. As fábulas tornam-se finas, As histórias desdentadas E as palavras atingiram o cume do rosto, O vento...