De
algum modo, desconfiar da música
Que
parece oferecer as suas alcovas
Para
depor cuidados ou para um esquecimento fácil,
Rodeando-nos
com os seus paraísos artificiais,
A
ondulação de bosques mágicos,
As
suas paredes fabulosas e invisíveis,
O
acalanto dos seus reinos inalcançáveis,
As
suas huris e águas perfumadas.
Não
aceitar a música que não traga
As
suas próprias bacantes,
Por
exemplo, alastrando num piano,
Cada
vez mais selvagem,
Subvertendo
a ordem de um piano,
Dilacerando
e enlouquecendo escalas,
Sopro
de turbação em todas as geometrias,
Harmonia
dissidente,
Não
aceitar nenhuma música
Que
não aceite primeiro
Desmembrar-se,
despedaçar-se,
Sem
se comprazer na sua própria forma,
Para
dar lugar no interior de si
A
uma música mais perfeita –
E
assim sucessivamente,
Eclodindo
na sua pira funerária.
Nuno Rocha Morais